Hoje, 1º de Maio é comemorado em muitos países o dia do trabalhador e da trabalhadora, visto por muitas pessoas apenas como mais um feriado.
Esse dia tem um peso importante para que todos os trabalhadores e trabalhadoras, tenham direitos que hoje a gente considera como direitos básicos, como por exemplo a jornada de 8 horas de trabalho e não 12 ou 14 horas como algumas figuras públicas (e milionárias) gostariam que fossem.
E como o meu conteúdo, tanto aqui como nas minhas redes sociais, tem como público as mulheres empreendedoras, eu não poderia deixar de vir aqui falar sobre isso, até porque, diferente do que algumas pessoas pregam por aí, ser empreendedora não é a mesma coisa que ser empresária, e não é porque você tem um CNPJ que isso te torna empresária.
Assista o vídeo abaixo para entender mais sobre a origem da data:
Empreendedora, Você é Trabalhadora e não Empresária
Um dos discursos mais comuns que a gente encontra atualmente aqui na Internet, principalmente de quem quer vender curso pra te "ensinar a ficar rica", é de que você tem que parar de agir e pensar como empreendedora e deve começar a agir e pensar como empresária, afinal de contas agora você é um CNPJ.
Se você não vê nenhum problema nesse discurso e acredita que o caminho é ler Pai Rico, Pai Pobre ou Os Segredos da mente Milionária, e isso vai mudar a sua vida...
Sinto muito em te dar essa banho de água fria, mas a sua realidade não vai mudar por causa desses livros.
Têm duas frases do Paulo Freire que, na minha opinião, são muito relevantes para que você consiga entender melhor o meu ponto de vista aqui. A primeira é:
"Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor."
Paulo Freire, patrono da educação brasileira, acreditava no poder da educação crítica,. da educação libertadora, e não na educação como uma forma de transferir conhecimento.
A segunda frase é:
"Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo."
Ao trazer essas duas frases, eu quero que você entenda que a educação da forma como a maioria de nós está acostumada, aquela que a gente aprende sem questionar e acredita porque aparentemente vem de alguém com suposta autoridade, não é necessariamente uma boa educação, pois nos limita a aceitar sem uma visão crítica. E muitas vezes acreditamos que vai ser através dessa educação que vamos melhor o mundo, ao menos o nosso mundo.
Quando eu digo para você que é empreendedora, que você é uma trabalhadora e não uma empresária, eu digo isso porque como empreendedora periférica, mãe e dona de casa, eu sei que a minha realidade não encaixa no discurso do neoliberalismo que quer que a gente se sinta empresária e faça conteúdo usando blazer e bebendo água na taça.
Mas falar apenas de mim e das minhas experiências pessoais me coloca no mesmo barco do discurso neoliberal, por tanto eu vou trazer aqui alguns dados.
Começando com trecho de outro post aqui do blog, onde eu compartilho um dado importante que nos revela que no Brasil mais de 80% das empreendedoras começou a empreender por necessidade:
Além disso, as pesquisas também nos mostram que quase 70% dos empreendedores brasileiros ganham até 2 salários mínimos, sendo que as mulheres empreendedoras ganham menos que os homens empreendedores. Não bastasse isso, 61 % das empreendedoras trabalha na informalidade e 6 em cada 10 empreendedoras é responsável pelos cuidados do lar e dos filhos.
Levando todas as informações acima em consideração e entendendo que o foco de uma empresária é o lucro, não poderia ser mais errado chamar de empresária as empreendedoras que estão trabalhando suas jornadas duplas e triplas com baixa remuneração.
Ao analisar o cenário real, e não a ilusão do discurso de alguns "gurus" da Internet, podemos perceber que na verdade as empreendedoras brasileiras são trabalhadoras e não empresárias.
Empreendedorismo Materno
E eu não poderia deixar de falar das mães empreendedoras, que em busca de manter o sustento da família, muitas mulheres precisam empreender depois da maternidade por falta de horários flexíveis, rede de apoio e principalmente, pelas demissões que atingem mais de 50% das mulheres após a licença maternidade.
A Uberização do Trabalho
Dentre todas as formas de empreendedorismo, ainda existe uma categoria específica na qual as pessoas se consideram empreendedoras, quando na verdade são trabalhadoras e trabalhadores explorados e sem nenhum direito (aqueles básicos mostrados no vídeo do início do post), que é a "Uberização do trabalho".
Entenda melhor como funciona a Uberização do trabalho no vídeo abaixo:
No Dia da Trabalhadora e do Trabalhador, é fundamental reconhecer não apenas as contribuições das mulheres para a força de trabalho brasileira, mas também as desigualdades sistêmicas que persistem e o discurso que coloca empreendedoras como empresárias, que ignora a realidade econômica e social em que a maioria das empreendedoras brasileiras está inserida e que é extremamente prejudicial para a saúde mental e também física dessas mulheres.
É necessário reconhecer a diversidade de experiências no empreendedorismo, nos unir para enfrentar esses desafios e criar um ambiente de trabalho verdadeiramente inclusivo e igualitário e com mais acessos e direitos sem a romantização da exploração.
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